Para tudo existe uma palavra


Não seria ótimo que uma só palavra pudesse expressar aqueles presentes que a gente dá para aplacar uma culpa? E aqueles desejos e caprichos que costumam acometer as mulheres grávidas? Não poderiam ser resumidos numa só palavra? E aquilo que a gente sente por uma pessoa que um dia amamos, mas deixamos de amar? Não teria um nome? Tem, sim. Para tudo existe uma palavra. Pena que quase sempre em outra língua e geralmente intraduzível.
Foi o que aprendi vivendo, viajando—e, acima de tudo, lendo um livro do professor Howard Rheingold, intitulado There´s a Word For It, lançado no final da década de 80. Ao lado de vocábulos já universalizados, como déjà-vu (que já consta do Aurélio), mantra (idem) e bricoleur, Rheingold listou outros, que são autênticas preciosidades semânticas, boa parte em idiomas tão fora do alcance comum como o sânscrito, o chinês, o javanês, o balinês e o havaiano. Não incluiu a nossa tão decantada e superestimada saudade, no que, a rigor, fez bem, já que ela pode ser substituída, sem grandes perdas, por nostalgia, longingSehnsucht e banzo.
Mais singulares do que saudade, por exemplo, são Drachenfutterdohadarazbliuto. Agora vocês já sabem como expressar de forma concisa (Drachenfutter) aqueles mimos com que os maridos farristas e adúlteros presenteiam as suas Amélias, após uma noitada fora, aqueles desejos e caprichos (dohada) que costumam acometer as mulheres grávidas, nas horas mais impróprias, e aquela estranha afeição (razbliuto) que sentimos por alguém que deixamos de amar. Drachenfutter é um termo alemão;dohada é tão sânscrito quanto mantra; e razbliuto, apesar da sonoridade italiana, veio da Rússia.
O alemão pode ser uma língua eufonicamente bisonha, de pedregosa prosódia, para muitos impenetrável, mas sua versatilidade semântica, digamos assim, talvez só não seja maior que a do inglês. Vivemos cercados de termos alemães, incorporados não apenas ao jargão musical (LiedLeitmotiv) e filosófico (GestaltDasein), mas também a instâncias mais elásticas, como Zeitgeist (espírito do tempo), Doppelgänger (duplo) eWeltanschauung (cosmovisão), esta última já incluída no Aurélio. Outros mais poderíamos agregar ao nosso vocabulário, enriquecendo a língua franca a que fomos inexoravelmente condenados. Pela prosaica razão de não dispormos de similares para DrachenfutterTorschlüsspanik,KorinthenkacherWeltschmerz e Schlimmbesserung na última flor do Lácio, mal não faria a vulgarização desses vocábulos entre nós. A menos, é claro, que conseguíssemos sintetizar numa só palavra o medo que as moças solteiras sentem quando começam a passar da idade de casar (Torchlüsspanik), aquelas pessoas extremamente preocupadas com detalhes irrelevantes (detalhista é pouco se comparada aKorinthenkacher), a cavernosa tristeza de certos jovens (Weltschmerz) e o resultado adverso de um suposto aprimoramento (Schlimmbesserung).
Se ditames protecionistas nos obrigassem a incorporar apenas uma palavra do alemão, eu abriria mão de todas as citadas para ficar comSchadenfreude. Esta é tão significativa e única que americanos e ingleses a utilizam com freqüência há muito tempo (oficialmente desde 1852, que foi quando o arcebispo R.C. Trench empregou-a pela primeira vez na Inglaterra), inclusive em textos jornalísticos, sem ter de explicar entre parêntese o seu significado, pois boa parte dos povos de línguas inglesas sabe que Schadenfreude (pronuncia-se chadenfroid) é aquela sensação de prazer que a desgraça alheia nos provoca.
Por que rimos quando alguém escorrega numa casca de banana?Schadenfreude.
Por que tantos se divertem com as agressões mútuas dos Três Patetas?Schadenfreude.
Por que tantos se regozijaram com a situação de Pinochet em Londres?Schadenfreude.
No carnaval de 1947, Francisco Alves lançou um samba de Benedito Lacerda e Herivelto Martins, “Palhaço”, que começava assim: “Eu assisti de camarote/ O teu fracasso/ Palhaço/ Palhaço...” Schadenfreude puro.
É mais do que um sentimento sádico, uma desforra ressentida, uma emoção cruel. Ou seja, é tudo isso somado a mais alguma coisa, uma vingança metafísica. Nada mais humano, no sentido de próprio do ser humano. Nem os mais bondosos cristãos deixaram de sentir umSchadenfreude quando souberam da morte de Hitler. Emoção diabólica, “sinal infalível de um coração perverso”, achava Schopenhauer. Nietzsche discordava. Para ele, a única coisa melhor do que ver um desafeto sofrer é fazê-lo sofrer. Schopenhauer e Nietzsche não podiam faltar —e não faltam— no livro que John Portmann dedicou à expressão SchadenfreudeWhen Bad Things Happen To Other People (Quando os outros entram pelo cano), recém-lançado pela Routledge International Thompson Organization(242 págs., US$ 26,95). Portmann fez um cuidadoso ensaio filosófico, explorando os variados ângulos do que, a certa altura, define como “um emoção, ao mesmo tempo, pungente e mercurial”, citando aqui e ali algumas pérolas do Schadenfreudismo. Como esta, de La Rochefoucauld: “Sempre encontramos algo que não nos desagrada nas adversidades de nossos melhores amigos”. E esta, de Mark Twain: “Para ser profundamente magoado, você precisa da ação conjunta de um inimigo e um amigo; o inimigo para falar mal de você e o amigo para lhe trazer o notícia”.
As melhores, porém, são de Gore Vidal. “Toda vez que um amigo meu faz sucesso, eu morro um pouco”. Mais Schadenfreude do que essa, só esta: “Não basta ser bem sucedido; os outros também, precisam fracassar”.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, a 17 de dezembro de 2000. 

O que você toma para achar que a vida vale a pena?

A sutil sinceridade das crianças

Sinto inveja da desconcertante criatividade das crianças que, sem cabecismos concretistas ou ambições pseudo-literárias, de repente criam do nada sacadas poéticas como esta: - A cor do céu depende da hora, do tempo e de quem olha. Quem diz que o céu é azul, nem desconfia que, de noite, ele pode ser preto e, quando vai anoitecendo, pode até ser rosa ou vermelho. Quem diz que o céu é azul é analfabeto de céu.
Adultos são o que as crianças se tornam depois que começam a produzir hormônios e a largar sonhos pelo caminho. E é assim que nos tornamos maduros, responsáveis e burrocráticos. Não é de se estranhar, pois, o sucesso da coluna que o dramaturgo e pediatra Pedro Bloch publicava toda semana na revista Manchete, intitulada "Criança Diz Cada Uma". Nela, Bloch narrava tiradas espontâneas e engraçadíssimas, protagonizadas pelas crianças (de 3 a 11 anos de idade) que passavam pelo seu consultório (como a fala sobre a cor do céu do parágrafo acima).

Bloch compilou seus achados em dezenas de livros, dentre eles oDicionário do Humor Infantil, meu predileto dentre todos por ter sido valorizado pelas ilustrações de Mariana Massarani, também autora de seis livros para crianças. Pena que o livro está fora de catálogo. Mas, como não sou egoísta, compartilho aqui algumas das melhores definições deste sensacional dicionário:
ADULTO - É uma pessoa que sabe tudo, mas quando não sabe diz logo: "veja na enciclopédia".
ALEGRIA - É um palhacinho no coração da gente.
AMAR - É pensar no outro, mesmo quando a gente nem tá pensando.
BOCA - É a garagem da língua.
BONITA - "Se eu sou bonita ou inteligente? Se eu sou bonita, você vê na cara. E se eu sou inteligente, nem respondo a uma pergunta boba dessas".
CABELO - É uma coisa que serve pra gente não ficar careca.
CALCANHAR - É o queixo do pé.
CHOCOLATE - É uma coisa que a gente nunca oferece aos amigos porque eles aceitam.
COBRA - É um bicho que só tem rabo.
CRIANÇA - Ser criança é não estragar a vida.

DEUS - Um dia eu disse que Deus era muito distraído e todo mundo riu. Só não sei a graça que isso tem.
ELÉTRONS - São os micróbios da eletricidade.
ESPERANÇA - É um pedaço da gente que sabe que vai dar certo.
FÉ - É uma menininha, na praia, esvaziando o mar com um baldezinho de plástico furado.
FUTEBOL - É um jogo em que, às vezes, a trave joga melhor que o goleiro. Pega tudo.
FUTURO - É tudo que vem depois e, quando chega, já era.
INFERNO - É um lugar onde a gente morre muito mais.
MENTIRA - (ouve-se o estraçalhar de um vidro no banheiro e o menino grita) - "É mentira do barulho!"
MISTÉRIO - É uma coisa que a gente não sabe explicar direito e, quando explica, já não é.
NAMORADO - É uma pessoa que tem medo do claro.
NEVOEIRO - É poeira do frio.
PACIÊNCIA - É uma coisa que mamãe perde sempre.
PIADA - É uma coisa engraçada que perde a graça quando a pessoa avisa que vai ser.
POLUIÇÃO - É sujeira do progresso.
REDE - É uma porção de buracos amarrados com barbante.
REFLEXO - É quando a água do lago se veste de árvores.
RELÂMPAGO - É um barulho rabiscando o céu.
SAUDADE - É quando uma pessoa que devia estar perto está longe.
SONO - É saudade de dormir.
SORTE - É a gente acordar, se preparar pra ir pra escola e descobrir que é feriado nacional.
STRIP-TEASE - É mulher tirando a roupa toda, na frente de todo mundo, sem ser pra tomar banho.
TRISTEZA - É uma criança com gesso no pé, sem assinatura.
VEIAS - São raízes que aparecem no pescoço das meninas que gritam.
VIDA - A vida de muita gente é só gol contra.
VIDA - A vida a gente não explica. Vive.
XINGAR - Quando eu xingo a minha avó, só xingo a metade que é do meu irmão.

Um sábado para chamar de meu

Acabei de me sentir envolvida num desejo enorme de escrever aqui. É a primeira vez que crio um espaço virtual só meu. Tenho orkut, msn, essas redes de relacionamento, mas um lugar só para mim eu ainda não tinha.
Agora sim!
Meu desejo não é escrever textos enfeitados, e sim colocar as loucuras da minha cabeça no papel. Se nela não passam palavras eruditas, bonitas e combinadas, não há motivos para perder o meu tempo procurando-as. Vai da cabeça direto para o papel: se vem belo, fica belo; se não vem, paciência. De outra forma não me pertenciaria.
E por falar em desejos, hoje desejei muito uma garoa paulistana, um chocolate quente, uma cama e um filme cult.
Como faz calor nessa terra, meu Deus!!!
Ventiladores, chuveiros frios, ar condicionado não estão dando conta do sentimento de "pinicação" que o calor soteropolitano tem proporcionado.
Acordei cedo, fui ao trabalho, cheguei em casa, almocei, dei uma passeada na net, dormi, acordei e o calor está aqui, fiel como um cão de guarda.

Mas, ainda há esperanças!!! Nem tudo está perdido!
Amanhã pretendo acordar cedo, mergulhar no mar de Itapuã e depois, curtir mais uma bela tarde de domingo.
Beijos
 

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